Mirian Goldenberg

A antropóloga Mirian Goldenberg se sente como se tivesse a mesma idade dos homens e mulheres de mais de 90 anos que estuda desde 2015: alegre e cheia de planos. Com mais de 30 livros publicados, dez sobre o que chama de “a bela velhice”, Mirian hoje é, com muito orgulho, uma “escutadora de velhinhos”, como seus amigos nonagenários a apelidaram.

Seu propósito de vida é combater o preconceito contra quem passou dos 60. “Lutar contra a velhofobia é lutar pela nossa própria velhice e dos nossos filhos e netos. No século passado, tivemos a revolução das mulheres, e neste século, teremos a revolução das pessoas de mais idade, porque foram elas que fizeram as revoluções passadas”, diz.

Um pouco mais velha que a mais famosa menina de vestido vermelho do Brasil, Mirian, 67 anos, conta que já foi chamada de Mônica diversas vezes. Será que é por ser tão determinada? Ao contrário do Cebolinha, ela não tinha um plano infalível desde pequena. Foi fazendo o que gostava. Sabia que adorava ler e escrever, o que aprendeu por volta dos 4 anos. Desde então, foi se apaixonando pela pesquisa, por ouvir as pessoas de mais idade e escrever sobre elas, o que a levou a ser antropóloga (a Antropologia é o estudo do homem como ser biológico, social e cultural). Ela é professora titular do Departamento de Antropologia Cultural e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Doutora em Antropologia Social pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Desde seus 16 anos, Mirian passou a escrever diariamente, registrando tudo o que vive em seus diários, que ocupam mais de 200 cadernos. Esses, diz ela, não são para ser lidos nem publicados. Desde bem pequena, a menina Mirian já lia de tudo, vivia pegando emprestado livros da biblioteca do pai. Também aos 16 anos, começou a ler Simone de Beauvoir, filósofa francesa, autora de O Segundo Sexo, referência na história do movimento feminista, e do livro A Velhice, crítica à maneira como a sociedade trata os mais velhos. A adolescente não poderia imaginar que, quase 50 anos depois, escreveria o texto de apresentação da edição comemorativa dos 70 anos de O Segundo Sexo, o livro mais importante da sua vida teria um de seus textos publicados em uma nova edição do livro de Beauvoir.

Mirian pensou em estudar medicina, mas acabou se interessando por fonoaudiologia (especialidade que trabalha com os aspectos que envolvem a comunicação oral e escrita). “Ela falava da profissão com tanta paixão, que resolvi prestar vestibular para também trabalhar com pessoas com deficiência auditiva”, conta. Prestou vestibular com 16 anos para a PUC-SP. Aos 23, dedicou sua dissertação de mestrado na área de Educação à satisfação profissional das pessoas com deficiência auditiva.

Mais tarde, se interessou pela história de Leila Diniz, atriz que morreu aos 27 anos em um acidente aéreo e inspirou muitas mulheres com seu comportamento libertário: uma foto de Leila na praia de biquíni, grávida de sete meses da filha Janaína ficou famosa (naquele tempo, as mulheres não mostravam a barriga grávida). Mirian escreveu sobre várias pautas ligadas às mulheres e acabou se apaixonando pelo tema do envelhecimento e da felicidade, que abordou em seus dois pós-doutorados. “Eu falo para todo mundo que eu tenho 93 anos porque eu vivo como uma pessoa de mais de 90 anos, que são as pessoas que eu amo de paixão”.

Entre os 30 livros publicados por ela estão Coroas, Corpo, envelhecimento e felicidade, Velho é lindo! Toda mulher é meio Leila Diniz, A arte de pesquisar e A invenção de uma bela velhice. No YouTube, é possível ver a TEDx “A invenção de uma bela velhice”, que já 1 milhão e 300 mil visualizações no YouTube.

O que as pessoas de 90 anos podem ensinar a quem chega aos 60, como a Mônica? Mirian respondeu numa entrevista: “A importância de ter uma vida significativa até o último dia, saber que o tempo é nossa principal riqueza e que deve ser alimentado com amor, alegria, generosidade. Saber dizer não. Afastar-se de pessoas tóxicas que só criticam, machucam, invejam. A amizade é a melhor rima para felicidade e temos que escolher bem nossos companheiros de jornada. Ter gratidão e saborear a vida como um presente de Deus. Por último, a grande lição que me deram: velho todo mundo é, o jovem de hoje é o velho de amanhã. Portanto, todos nós temos que vestir a camiseta “velho-é-lindo!” para termos uma sociedade mais generosa, justa, democrática e feliz”.


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